A intolerância à lactose pode assumir três tipos: intolerância primária, intolerância secundária e défice congénito de lactase. Enquanto a intolerância primária e o défice congénito de lactase são condições irreversíveis explicadas por causas genéticas, a intolerância secundária é uma condição reversível que está relacionada com alguma patologia que cause danos na mucosa intestinal.1
Embora os sintomas apresentados após o consumo de leite e seus derivados sejam semelhantes, independentemente do tipo de intolerância (dor, ruídos e distensão abdominal; flatulência; náuseas; vómitos; diarreia; obstipação), causas diferentes resultam em tipos de intolerância à lactose distintos.1 Vejamos quais as causas para cada tipo de intolerância.
Intolerância à lactose causada por perda progressiva da produção de lactase
O défice primário de lactase (ou lactase não-persistente) pode ser considerado um dos distúrbios genéticos mais comuns no mundo,2 sendo, aliás, o estado normal de 70% da população mundial.1 Tendo por base causas genéticas, o indivíduo perde progressivamente a sua capacidade de produzir a enzima lactase, ou seja, a enzima responsável pela decomposição da lactose em glicose e galactose.3 Por conseguinte, o organismo perde gradualmente a capacidade de digerir a lactose, começando a manifestar sintomas após a ingestão de leite e seus derivados.1
O facto de a intolerância primária ter uma causa genética não significa que o indivíduo nasça com ela. O decréscimo da produção da enzima lactase inicia-se, geralmente, entre os 2 e os 5 anos de idade, tendo maior prevalência nuns grupos étnicos do que noutros (na população europeia, a prevalência da intolerância à lactose varia entre os 15% e os 70%).1,4
A intolerância primária é uma condição irreversível, isto é, não existe uma cura. No entanto, nem todos os indivíduos com Lactase Não-Persistente manifestam os mesmos sintomas. Estes relacionam-se com a quantidade de lactose ingerida e com a capacidade do próprio organismo de a digerir, existindo mesmo uma pequena percentagem de indivíduos que não manifestam quaisquer sintomas após a ingestão de produtos com lactose.5
Intolerância à lactose causada por danos e/ou desequilíbrio da mucosa intestinal
Certas condições de saúde provocam danos na mucosa intestinal que, por sua vez, podem causar uma diminuição da produção de enzima lactase. Nestes casos, o indivíduo pode desenvolver défice secundário de lactase, sendo esta uma condição temporária, ou seja, após o controlo dos distúrbios que estão a causar a intolerância, a capacidade de digestão da lactose poderá ser aumentada ou totalmente reposta.1
Algumas das condições passíveis de provocar intolerância à lactose secundária são1:
- Gastroenterite (viral ou bacteriana);
- Doença celíaca;
- Doença de Chron;
- Diarreia prolongada;
- Anorexia ou bulimia;
- Síndrome do Intestino Curto;
- Síndrome do Intestino Irritável;
- Supercrescimento bacteriano.
Além disso, a toma de certos antibióticos, bem como o nascimento prematuro podem também provocar o desenvolvimento do défice secundário de lactase.1
Intolerância à lactose causada por incapacidade de produzir lactase (mutação genética)
Ao contrário dos défices primário e secundário de lactase, que se desenvolvem progressivamente ao longo da vida ou em momentos específicos, respetivamente, a intolerância à lactose pode também ser causada por uma mutação genética. Nestes casos, os recém-nascidos manifestam sintomas de intolerância à lactose – nomeadamente diarreias abundantes – logo após a primeira exposição ao leite materno ou, no máximo, até aos dez dias de vida.1,6 Nestes casos raros, se as crianças não passarem a ser alimentadas com fórmulas infantis sem lactose, as consequências poderão ser diarreias sérias e perda de peso.7
Assim, e uma vez que o indivíduo nasce sem capacidade ou com uma capacidade mínima de digerir a lactose, esta é uma condição irrecuperável.1 No entanto, este é um distúrbio extremamente raro, tendo sido a maior parte dos casos a nível mundial detetada na Finlândia.5
Referências
- Primeras preguntas [Internet]. No lactosa. Asociación de intolerantes a la lactosa España. [citado 21 de Junho de 2021]. Disponível em: https://lactosa.org/la-intolerancia/primeras-preguntas/
- Deng Y, Misselwitz B, Dai N, Fox M. Lactose Intolerance in Adults: Biological Mechanism and Dietary Management. Nutrients [Internet]. 18 de Setembro de 2015 [citado 21 de Junho de 2021];7(9):8020–35. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26393648/
- Shiel Jr. WC. Medical Definition of Lactose [Internet]. MedicineNet. [citado 15 de Março de 2021]. Disponível em: https://www.medicinenet.com/lactose/definition.htm
- Falcão I, Mansilha HF. Alergia às Proteínas do Leite de Vaca e Intolerância à Lactose. Portuguese Journal of Pediatrics (former Acta Pediátrica Portuguesa) [Internet]. 28 de Março de 2017 [citado 29 de Janeiro de 2021];48(1):53–60. Disponível em: https://pjp.spp.pt//article/view/9507/9156
- Scientific Opinion on lactose thresholds in lactose intolerance and galactosaemia. EFSA Journal [Internet]. 2010 [citado 21 de Junho de 2021];8(9):1777. Disponível em: https://efsa.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.2903/j.efsa.2010.1777
- Savilahti E, Launiala K, Kuitunen P. Congenital lactase deficiency. A clinical study on 16 patients. Arch Dis Child [Internet]. Abril de 1983 [citado 21 de Junho de 2021];58(4):246–52. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/6847226/
- Lactose intolerance: MedlinePlus Genetics [Internet]. [citado 21 de Junho de 2021]. Disponível em: https://medlineplus.gov/genetics/condition/lactose-intolerance/