A par com a glicose, a galactose é o outro monossacarídeo (açúcar simples) que faz parte da lactose (dissacarídeo).1,2 Na verdade, a lactose é considerada a principal fonte de galactose da nossa dieta.3
Para que serve a galactose?
Tal como acontece com a glicose, também a galactose desempenha um papel fundamental nos primeiros tempos de vida dos seres humanos, pois estas duas moléculas de açúcar são essenciais para o desenvolvimento de várias macromoléculas imprescindíveis ao crescimento.4 Além disso, os açúcares presentes no leite humano oferecem ainda aos bebés benefícios no que diz respeito à formação de defesas.5
Além desta fase inicial da nossa vida, a galactose continua a ter um papel importante na nossa saúde. Enquanto a glicose, como explicamos aqui, é fulcral para o fornecimento de energia ao nosso corpo6, a galactose é essencial para o correto desenvolvimento cerebral.2
Por falar no cérebro, a galactose tem sido precisamente identificada como benéfica para algumas doenças, nomeadamente as que afetam a função cerebral. Isto acontece pois esta molécula poderá ajudar na remoção de componentes cerebrais tóxicos em pessoas que sofrem de doenças como o Alzheimer.7
Por fim, a galactose pode ainda ter efeitos benéficos para a nossa saúde gastrointestinal. Além de estimular o crescimento da microflora intestinal, devido à sua ação prebiótica, a galactose pode também ser relevante na prevenção de infeções provocadas por agentes patogénicos.7
Galactose e intolerância à lactose
Estando a lactose presente nos produtos lácteos, como já referimos, a principal fonte de galactose para o nosso organismo, isso significa que não existem alternativas para quem é intolerante à lactose? Significa também que quem tem intolerância à lactose não pode usufruir de todos aqueles benefícios da galactose?
Na verdade, a galactose também está presente, ainda que em pequenas quantidades, em algumas frutas e vegetais (como o abacate, o aipo, a ameixa, as amoras, os espinafres, o kiwi, a manga, o pêssego ou os pimentos8), bem como, em quantidades mais significativas, em leguminosas (como o feijão e as ervilhas).3
Assim, é possível encontrar este açúcar natural em alimentos que não contêm lactose. No entanto, é importante reforçar que os produtos lácteos fermentados, como é o caso do iogurte – tolerado por algumas pessoas com intolerância à lactose9 – veem o seu teor de lactose diminuído pelo processo de fermentação o que, consequentemente, faz com que o nível de galactase aumente. Isto acontece porque o próprio processo de fermentação decompõe parte da lactose.10
De facto, é precisamente a incapacidade de decompor a lactose em glicose e galactose, devido à insuficiência de enzima lactase no intestino, que causa os sintomas da intolerância à lactose.11
Referências
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