Sobre intolerância à lactose

Mitos e verdades sobre a lactose

As pessoas com intolerância à lactose não podem consumir laticínios

MITO: Uma vez que nem todos os laticínios contêm o mesmo teor de lactose e que a capacidade de digestão da lactose varia de indivíduo para indivíduo, a maior parte das pessoas com intolerância à lactose pode consumir alguns laticínios. O iogurte, por exemplo, por ser um produto fermentado, é geralmente tolerado.1,2 Também algumas variedades de queijo – como queijo flamengo, queijos duros, queijo suíço, parmesão, cheddar e gouda – apresentam baixo teor de lactose. Em alternativa, existe já uma grande variedade de leites, iogurtes e outros laticínios sem lactose.3,4

A lactose está presente apenas em leite e laticínios

MITO: A lactose é comummente usada pelas indústrias alimentar e farmacêutica. Assim, ela pode estar presente em alimentos, principalmente em carnes processadas, e até em refrigerantes, cervejas ou mesmo em medicamentos.5,6

Todos os intolerantes à lactose têm os mesmos sintomas

MITO: O tipo de sintomas e a sua intensidade dependem de vários fatores. Por um lado, depende da capacidade do organismo de cada pessoa de  digerir a lactose. Por outro, tem em conta fatores como a quantidade ingerida, o tipo de produto ingerido e a ingestão em simultâneo (ou não) com outros alimentos.7

A prevalência da intolerância à lactose é diferente nas várias partes do mundo

VERDADE: Os povos do norte da Europa desenvolveram uma capacidade muito maior de digerir a lactose do que os outros povos do mundo. Normalmente, os bebés nascem com a capacidade máxima de digerir a lactose, mas essa capacidade vai-se perdendo a partir dos dois anos.8 No entanto, uma vez que o norte da Europa tem um clima adverso à produção agrícola, os seus povos encontraram nos laticínios uma forma de sobrevivência. Por isso, apresentam uma mutação genética que torna os seus organismos mais tolerantes à lactose.7  

Bebidas vegetais e leite sem lactose têm as mesmas propriedades

MITO: As bebidas vegetais, obtidas de plantas como o arroz, a aveia, a soja, o coco, a amêndoa, etc. – são 100% livres de lactose. Contudo, estas bebidas têm uma quantidade substancialmente menor de proteínas, minerais e vitaminas essenciais para o organismo, em comparação com o leite de vaca.9 Já o leite sem lactose mantém as propriedades nutritivas do leite, com a vantagem de se ter eliminado a lactose.10

Não existe tratamento para a intolerância à lactose

VERDADE: A única solução viável, em caso de intolerância, é a redução do consumo de lactose, seguindo uma dieta adaptada à quantidade que o organismo consegue digerir.11 Além disso, existem suplementos de enzima lactase que ajudam a digerir a lactose, mas a sua toma só é recomendada em situações esporádicas, e não é considerado um tratamento, mas sim uma solução alternativa para que o intestino consiga processar a lactose.7,12

A intolerância à lactose pode ser temporária

VERDADE: Existe um conjunto de distúrbios que podem causar uma intolerância temporária à lactose, como gastroenterites (de vários tipos), doença celíaca, doença de Crohn, má nutrição (causada por diarreia prolongada, anorexia ou bulimia), síndrome do intestino curto, síndrome do intestino irritável, síndrome de supercrescimento bacteriano ou toma de antibióticos. Geralmente, após o controlo destes distúrbios, a capacidade de digestão da lactose poderá aumentar ou ser totalmente reposta.7

Intolerância à lactose pode ser fatal

MITO: Qualquer intolerância alimentar consiste na dificuldade do nosso organismo em digerir algum alimento. Assim, a intolerância à lactose pode causar sintomas gastrointestinais, mas não é fatal. Por outro lado, a alergia ao leite, como todas as alergias alimentares, causa reações alérgicas com uma gravidade média a alta, podendo mesmo ser fatal. Neste artigo, explicamos a diferença entre ambas.

Referências

  1. Ruiz Jr. AR. Intolerância à lactose – Distúrbios digestivos [Internet]. Manual MSD Versão Saúde para a Família. 2019 [citado 29 de Janeiro de 2021]. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/m%C3%A1-absor%C3%A7%C3%A3o/intoler%C3%A2ncia-%C3%A0-lactose
  2. Tuure T, Korpela R. Lactose intolerance and low-lactose dairy products. Handbook of functional dairy products [Internet]. 2004 [citado 4 de Março de 2021];71–90. Disponível em: https://books.google.pt/books?id=geXneTZ13w4C&printsec=frontcover&dq=handbook+of+functional+dairy+products&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwiA2YOQu5bvAhV98OAKHZMvCLUQ6AEwAHoECAEQAg#v=onepage&q&f=false
  3. Associação Portuguesa de Nutrição. Queijos, dos frescos aos curados [Internet]. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição; 2018 [citado 4 de Fevereiro de 2021]. (Coleção E-Books APN). Disponível em: https://www.apn.org.pt/documentos/ebooks/e-book_queijo_8.pdf
  4. West H. 6 Dairy Foods That Are Naturally Low in Lactose [Internet]. Healthline. 2017 [citado 4 de Fevereiro de 2021]. Disponível em: https://www.healthline.com/nutrition/dairy-foods-low-in-lactose
  5. Lomer MCE, Parkes GC, Sanderson JD. Review article: lactose intolerance in clinical practice – myths and realities. Alimentary Pharmacology & Therapeutics [Internet]. 2008 [citado 2 de Fevereiro de 2021];27(2):93–103. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/j.1365-2036.2007.03557.x
  6. Magnuson B, Zarbock SD, Record KE, Hoskins L, Smith KM. Lactose: The Hidden Culprit in Medication Intolerance? Orthopedics [Internet]. 1 de Agosto de 2007 [citado 3 de Fevereiro de 2021];30(8):615–7. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/6113405_Lactose_The_Hidden_Culprit_in_Medication_Intolerance/link/0c96052fa872be3fd0000000/download
  7. Primeras preguntas [Internet]. No Lactosa: Asociación de intolerantes a la lactosa España. [citado 29 de Janeiro de 2021]. Disponível em: https://lactosa.org/la-intolerancia/primeras-preguntas/
  8. Mattar R, de Campos Mazo DF, Carrilho FJ. Lactose intolerance: diagnosis, genetic, and clinical factors. Clin Exp Gastroenterol [Internet]. 5 de Julho de 2012 [citado 29 de Janeiro de 2021];5:113–21. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3401057/
  9. Facioni MS, Raspini B, Pivari F, Dogliotti E, Cena H. Nutritional management of lactose intolerance: the importance of diet and food labelling. J Transl Med [Internet]. 26 de Junho de 2020 [citado 2 de Fevereiro de 2021];18(1):260. Disponível em: https://doi.org/10.1186/s12967-020-02429-2
  10. Soy intolerante a la lactosa: ¿qué puedo comer? [Internet]. No Lactosa: Asociación de intolerantes a la lactosa España. 2020 [citado 29 de Janeiro de 2021]. Disponível em: https://lactosa.org/soy-intolerante-a-la-lactosa-que-puedo-comer/
  11. ¿Qué es la IL? [Internet]. No Lactosa: Asociación de intolerantes a la lactosa España. [citado 2 de Fevereiro de 2021]. Disponível em: https://lactosa.org/la-intolerancia/que-es-la-il/
  12. Ruiz Jr. AR. Intolerância à lactose – Distúrbios digestivos [Internet]. Manual MSD Versão Saúde para a Família. 2019 [citado 29 de Janeiro de 2021]. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/m%C3%A1-absor%C3%A7%C3%A3o/intoler%C3%A2ncia-%C3%A0-lactose