De acordo com os dados da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, estima-se que 1 em cada 3 portugueses apresente algum grau de dificuldade em digerir a lactose. A nível mundial, estima-se que 75% da população mundial perca a capacidade de digerir a lactose (principal hidrato de carbono do leite) em alguma fase da vida.
Estes dados são importantes para, por um lado, percebermos a importância deste tema no dia a dia de muitas pessoas e, por outro, garantir que as pessoas que têm intolerância à lactose não estão sós nesta problemática.
Em primeiro lugar, é importante fazermos uma distinção conveniente entre esta intolerância e outras relacionadas com a lactose. Podemos identificar três situações distintas: a intolerância, a alergia e a sensibilidade. A primeira está relacionada com uma deficiência enzimática que altera a digestão, não afetando o sistema imunitário. A alergia consiste numa resposta do sistema imunitário a componentes alimentares, geralmente proteínas e é quase que exclusivamente limitada aos recém-nascidos. E a sensibilidade evidencia-se como uma resposta anormal, por vezes com uma reação semelhante à da alergia.
Percebemos, então, que a intolerância à lactose está relacionada com uma dificuldade de digestão da lactose pela enzima lactase. Mas de que forma é que esta situação acontece? A lactose é um dissacarídeo composto por uma molécula de galactose e uma de glicose unidas por uma ligação beta-glicosídica. A intolerância à lactose deve-se a uma insuficiência em lactase na superfície dos enterócitos ao nível do intestino delgado. Quando não é produzida uma quantidade suficiente de lactase para digerir toda a lactose ingerida, a lactose remanescente segue até ao intestino grosso. No cólon, as bactérias acabam por degradar essa lactose, produzindo ácidos gordos e gases, como dióxido de carbono e metano. Quando esta digestão não acontece, há alguns sintomas que, com frequência, ocorrem no organismo humano: dor abdominal, distensão abdominal, flatulência e diarreia com uma considerável variação intra e interindividual na gravidade.
Estes sintomas não são específicos da intolerância à lactose. O que quero dizer é que há outras doenças ou distúrbios que podem desencadear os mesmos sintomas. Logo, devemos diagnosticar adequadamente a intolerância à lactose e mesmo com um diagnóstico feito, ter consciência que alguns destes sintomas podem ocorrer por outras razões. Médicos, nutricionistas e farmacêuticos podem colaborar nesta identificação e distinção, permitindo uma gestão mais correta desta intolerância.
Quando a pessoa tem o diagnóstico feito, os nutricionistas devem orientar os doentes de duas formas: limitando os alimentos com lactose, oferecendo alternativas nutricionalmente adequadas (nomeadamente leite sem lactose) e sugerir, em situações particulares (tais como viagens, refeições fora de casa, campos de férias, “aquele galão de máquina”), a suplementação com lactase. Existem algumas alternativas no mercado sob a forma de suplementos alimentares, que são eficazes a restabelecer o funcionamento normal do sistema digestivo e apresentam um perfil de segurança favorável.
Com uma abordagem multidisciplinar e rigorosa, a pessoa com intolerância à lactose pode ter uma alimentação saudável, equilibrada e adequada, sem défices nutricionais, mas também sem desconfortos desnecessários.
Aconselhe-se com o seu médico, farmacêutico ou nutricionista.
