É muito provável que não saibamos o que são enzimas digestivas até ao momento em que percebemos que é a sua deficiência que nos está a causar sintomas gastrointestinais, tais como cólicas, gases, diarreia, entre outros. Isto significa que é precisamente a falta ou insuficiência de uma enzima que está na origem da intolerância à lactose.1
Vejamos, então, o que são enzimas digestivas, que tipos existem, que importante papel desempenham na nossa saúde e bem-estar e o que acontece caso o nosso corpo deixe de as produzir.
O que são enzimas digestivas?
As enzimas digestivas são essenciais para a absorção dos nutrientes presentes nos alimentos que ingerimos. Isto porque são elas que ajudam o nosso sistema digestivo a decompor os hidratos de carbono, gorduras e proteínas dos alimentos.2
Muitas vezes, as enzimas digestivas são confundidas com probióticos, o que não é correto. Na verdade, embora ambos contribuam para a digestão, os probióticos fazem-no ao manter o equilíbrio de bactérias boas na nossa microbiota intestinal (o que se apresenta benéfico para muitos outros aspetos na nossa saúde), enquanto as enzimas digestivas têm, elas próprias, capacidade de digerir os alimentos.1
Que tipos de enzimas digestivas existem?
Existem vários tipos de enzimas digestivas, sendo os principais tipos produzidos pelo pâncreas, nomeadamente1,2:
- a amilase, que digere hidratos de carbono complexos, subdividindo-os em açúcares simples;
- a lipase, que digere gorduras;
- a protease, responsável pela digestão das proteínas (transformação em aminoácidos).
Além disso existem ainda enzimas digestivas que são produzidas pelo intestino delgado, como é o caso da sacarase, responsável pela digestão da sacarose (o açúcar naturalmente presente em algumas frutas, vegetais e cereais, mas também o tipo de açúcar adicionado em alimentos processados3), e da lactase.1
Lactase, a enzima responsável pela quebra da lactose
Tal como explicamos aqui, a lactase é a enzima responsável pela quebra/divisão da lactase (uma grande molécula de açúcar) nas suas duas moléculas menores: a glicose e a galactose.4 Isto significa, portanto, que é a enzima lactase a responsável pela correta digestão da lactose.5
À medida que vamos crescendo, a capacidade de produção de lactase pelo nosso intestino vai diminuindo, podendo levar ao desenvolvimento de intolerância à lactose.6
Deficiências enzimáticas: o que são e como se manifestam?
Quando o nosso corpo não tem capacidade para produzir adequadamente as enzimas digestivas, podemos estar perante uma deficiência/insuficiência enzimática. Isto significa que o nosso sistema digestivo não terá capacidade para digerir adequadamente os alimentos que comemos nem, consequentemente, de absorver os nutrientes que estes contêm.2
Entre as deficiências enzimáticas mais comuns, encontramos1:
- a deficiência congénita de sacarase-isomaltase, que inabilita o nosso organismo a digerir certos açúcares;
- a insuficiência pancreática exócrina, caraterizada pela incapacidade do pâncreas para produzir as enzimas necessárias à digestão dos hidratos de carbono, das proteínas e das gorduras;
- o défice de lactase, que provoca intolerância à lactose, isto é, dificuldade em digerir o açúcar natural presente no leite, seus derivados e produtos que os contenham na sua composição.
Estas deficiências tanto podem ser causadas por uma deficiência genética inata ou desenvolvida em determinado momento da vida, como por algumas doenças e tratamentos médicos, tais como pancreatite crónica, cancro ou outras perturbações que envolvam o pâncreas, fibrose quística ou cirurgias gastrointestinais.1
Quais os sintomas da(s) deficiência(s) de enzimas digestivas?
A insuficiência ou falta de enzimas digestivas resulta, sobretudo, na manifestação de sintomas gastrointestinais.2 Entre as principais manifestações deste problema encontramos1:
- cólicas ou dores de barriga;
- inchaço abdominal;
- diarreia;
- flatulência (gases);
- fezes gordurosas;
- perda de peso sem motivo aparente.
O que fazer em caso de deficiência enzimática?
Caso o nosso corpo perca, totalmente ou em parte, a capacidade de produzir alguma enzima digestiva, é possível que o médico recomende a toma de medicamentos ou suplementos alimentares que substituam as enzimas que deveriam ser naturalmente produzidas pelo nosso organismo. Esta solução poderá contribuir para prevenir os sintomas acima mencionados.2
Uma das enzimas que é possível tomar sob a forma de suplemento alimentar é a enzima lactase. Esta (tal como qualquer suplemento ou medicamento que “imite” a ação das enzimas digestivas) deve ser tomada antes da ingestão de refeições onde a lactose (ou outro componente que o nosso organismo não consiga digerir) esteja presente. Dessa forma, a enzima ingerida irá fazer o seu papel na correta digestão dos alimentos.2
Referências:
- Digestive Enzymes and Digestive Enzyme Supplements [Internet]. John Hopkins Medicine. 2022 [citado 1 de junho de 2022]. Disponível em: https://www.hopkinsmedicine.org/health/wellness-and-prevention/digestive-enzymes-and-digestive-enzyme-supplements
- Soliman Y, Pietrangelo A. Digestive Enzymes: What Are They, Do They Work, and More [Internet]. Healthline. 2021 [citado 1 de junho de 2022]. Disponível em: https://www.healthline.com/health/exocrine-pancreatic-insufficiency/the-role-of-digestive-enzymes-in-gi-disorders
- Groves M. Sucrose vs Glucose vs Fructose: What’s the Difference? [Internet]. Healthline. 2018 [citado 1 de junho de 2022]. Disponível em: https://www.healthline.com/nutrition/sucrose-glucose-fructose
- Kretchmer N. Lactose and Lactase. Scientific American [Internet]. 1972 [citado 15 de março de 2021];227(4):70–9. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/24922892
- Shiel Jr. WC. Medical Definition of Lactose [Internet]. MedicineNet. [citado 15 de março de 2021]. Disponível em: https://www.medicinenet.com/lactose/definition.htm
- Romero-Velarde E, Delgado-Franco D, García-Gutiérrez M, Gurrola-Díaz C, Larrosa-Haro A, Montijo-Barrios E, et al. The Importance of Lactose in the Human Diet: Outcomes of a Mexican Consensus Meeting. Nutrients [Internet]. 12 de novembro de 2019 [citado 16 de março de 2021];11(11). Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31718111/