Saúde e bem-estar com intolerância à lactose

Como descobrir intolerância à lactose: 3 dicas

Obter um correto diagnóstico de intolerância à lactose é fundamental para que não se pratiquem dietas desnecessariamente livres de produtos lácteos, que poderão ter consequências não só para a nossa saúde e bem-estar (por poderem comprometer a ingestão adequada de alguns nutrientes1), mas também financeiras e sociais.2 Por outro lado quando, de facto, o organismo tem dificuldade em digerir o açúcar natural do leite, descobrir a intolerância à lactose irá permitir melhorar a qualidade de vida, pois é possível eliminar da dieta os alimentos causadores dos sintomas.

Assim, em caso de suspeitarmos que somos (ou que os nossos filhos são) intolerantes à lactose, há algumas dicas que podemos seguir para perceber se, de facto, o que nos está a causar os sintomas típicos de uma intolerância alimentar – inchaço abdominal, cólicas, flatulência (gases), diarreia ou vómitos – é mesmo o açúcar natural do leite.3 Mas atenção, estas sugestões são apenas o primeiro passo para ajudar no diagnóstico de intolerância à lactose, que deve ser sempre feito por um profissional de saúde habilitado.

De qualquer forma, na hora de consultar o médico, ter uma noção clara dos alimentos que provocam o mal estar é essencial. Uma vez que a intolerância à lactose partilha dos mesmos sintomas que outras patologias, a comunicação entre médico e doente é de extrema relevância para o correto diagnóstico.4

Vejamos, então, o que pode ser feito para nos ajudar a perceber se somos intolerantes à lactose, previamente à consulta do médico.

3 dicas para descobrir a intolerância à lactose

1. Conhecer os produtos em que a lactose pode estar presente

Embora o leite e seus derivados sejam uma fonte óbvia de lactose, como explicamos aqui, há muitos outros produtos em que este açúcar está presente. Assim, mesmo que retiremos os laticínios da nossa dieta, poderemos estar a ingerir lactose por via de outros alimentos, o que poderá dificultar a identificação da lactose como causa de eventuais sintomas gastrointestinais. Por isso, é muito importante ler os rótulos dos alimentos e saber identificar a presença de lactose (nós ajudamos, aqui).4

Além disso, o facto de uns produtos lácteos nos provocarem sintomas e outros não não significa que devamos excluir a hipótese de sermos intolerantes à lactose. Isto porque nem todos os laticínios têm o mesmo teor de lactose.4

2. Fazer um diário alimentar

Quando experimentamos sintomas gastrointestinais, mas não conseguimos identificar claramente o que é que os poderá estar a causar, iniciar o registo de um diário alimentar pode ser uma boa ajuda. Para tal, é necessário anotar três aspetos5:

  • o que comemos;
  • quaisquer sintomas que surjam após termos comido esses alimentos;
  • quanto tempo após a ingestão dos alimentos é que os sintomas surgiram.

Este documento será uma excelente ajuda na hora de consultar o médico!6

3. Testar uma dieta de exclusão-reintrodução de lactose

Quando suspeitamos que seja a lactose a causa do nosso mal estar, podemos testar a sua completa eliminação da nossa alimentação e reintroduzi-la após algum tempo, continuando a elaborar o diário alimentar durante esse período. Este teste funciona da seguinte forma7:

  1. começamos por excluir por completo da nossa dieta todos os produtos que contenham lactose, durante duas semanas;
  2. no final desse período, se tivermos notado uma melhoria dos sintomas, continuamos a dieta de exclusão por mais duas semanas;
  3. após esse período, se os sintomas tiverem melhorado, reintroduzimos os produtos com lactose na dieta, para perceber se os sintomas reaparecem (em caso afirmativo, poderá mesmo querer dizer que somos intolerantes à lactose, diagnóstico que deve ser efetuado por um profissional de saúde habilitado).

Poderão também utilizar este desafio simplificado para vos ajudar a perceber se poderão ser intolerantes à lactose.

Testes de laboratório para a intolerância à lactose

Geralmente, quando o médico suspeita de uma intolerância à lactose, o teste de exclusão-reintrodução alimentar é suficiente para a realização do diagnóstico (caso não o tenhamos feito antes, os profissionais de saúde costumam recomendar a adoção de uma dieta isenta de lactose pelo período de duas semanas).6 No entanto, existem também testes laboratoriais que permitem confirmar esse mesmo diagnóstico, sendo estes dois os mais comuns6:

  • teste de hidrogénio: consiste num exame em que, após evitar comer e beber durante a noite, se sopra para uma bolsa tipo balão, de modo a medir a quantidade de hidrogénio expelida. De seguida, terá de se consumir um preparado com lactose, soprando-se para o balão de 15 em 15 minutos. Caso sejamos intolerantes à lactose,  as bactérias presentes no cólon vão produzir uma quantidade de hidrogénio superior ao normal. A quantidade de hidrogénio excedente é posteriormente absorvida pela corrente sanguínea e transportada para os pulmões onde é libertada e exalada na respiração podendo, então, ser medida. A quantidade de hidrogénio irá aumentar, pois a lactose estimula a sua produção pelo cólon;
  • teste de tolerância à lactose: o doente terá igualmente de ingerir uma solução com lactose, sendo, de seguida, retirada uma amostra de sangue para análise dos níveis de glucose. Caso sejamos intolerantes à lactose, esses níveis irão aumentar muito pouco ou mesmo nada, pois o organismo não tem capacidade de dividir a lactose em glicose e galactose.

Existem ainda testes que permitem detetar a quantidade de lactase que o nosso intestino produz.6 No entanto, estes testes poderão não ser suficientes para diagnosticar a intolerância à lactose, conduzindo a autodiagnósticos errados, pelo que o diagnóstico final deve ser feito por um médico especialista.8 Além disso, a intolerância à lactose poderá estar associada a algum outro problema de saúde que a esteja a causar de forma temporária (défice secundário de lactase), sendo necessário diagnosticar e tratar adequadamente esse mesmo problema.9

Referências:

  1. Facioni MS, Raspini B, Pivari F, Dogliotti E, Cena H. Nutritional management of lactose intolerance: the importance of diet and food labelling. J Transl Med [Internet]. 26 de junho de 2020 [citado 2 de fevereiro de 2021];18(1):260. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1186/s12967-020-02429-2
  2. Falcão I, Mansilha HF. Alergia às Proteínas do Leite de Vaca e Intolerância à Lactose. Portuguese Journal of Pediatrics (former Acta Pediátrica Portuguesa) [Internet]. 28 de março de 2017 [citado 29 de janeiro de 2021];48(1):53–60. Disponível em: https://pjp.spp.pt//article/view/9507
  3. Ruiz Jr. AR. Intolerância à lactose – Distúrbios digestivos [Internet]. Manual MSD Versão Saúde para a Família. 2019 [citado 29 de janeiro de 2021]. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/m%C3%A1-absor%C3%A7%C3%A3o/intoler%C3%A2ncia-%C3%A0-lactose
  4. Sans O. Adinew01. La importancia del diagnóstico. [Internet]. Lactosa. 2022 [citado 6 de abril de 2022]. Disponível em: https://lactosa.org/la-importancia-del-diagnostico/
  5. Food intolerance [Internet]. nhs.uk. 2017 [citado 1 de fevereiro de 2021]. Disponível em: https://www.nhs.uk/conditions/food-intolerance/
  6. Lactose intolerance – Diagnosis [Internet]. nhs.uk. 2018 [citado 6 de abril de 2022]. Disponível em: https://www.nhs.uk/conditions/lactose-intolerance/diagnosis/
  7. Royal United Hospitals Bath NHS Foundation Trust. Lactose Free Diets [Internet]. 2015 [citado 6 de abril de 2022]. Disponível em: https://www.ruh.nhs.uk/patients/services/clinical_depts/paediatrics/documents/patient_info/PAE030_Lactose_Free_diets.pdf
  8. Intolerância à lactose [Internet]. Associação Portuguesa de Celíacos. [citado 8 de julho de 2021]. Disponível em: https://www.celiacos.org.pt/intolerancia-a-lactose/
  9. Rodrigues MLR. Intolerâncias alimentares [Internet] [masterThesis]. 00500::Universidade de Coimbra; 2011 [citado 8 de julho de 2021]. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/80971